quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A pedra

 
 O distraído nela tropeçou...
O bruto a usou como projétil.
O empreendedor, usando-a, construiu.
O camponês, cansado da lida, dela fez assento.
Para meninos, foi brinquedo.
Drummond a poetizou.
Já, Davi, matou Golias, e Michelangelo extraiu-lhe a mais bela escultura...
E em todos esses casos, a diferença não esteve na pedra, mas no homem!
Não existe "pedra" no seu caminho que você não possa aproveitá-la para o seu próprio crescimento.
Independente do tamanho das pedras, no decorrer de sua vida. não existirá uma, que você não possa aproveitá-la para seu crescimento espiritual. Quando a sua pedra atual, tenho certeza que Deus irá te dar sabedoria, para mais tarde você olhar para ela, e ter orgulho da maravilhosa experiência que causou em sua vida, no seu crescimento espiritual.
Compreendo que todos nós temos nossos dias de: Distraídos, brutos, empreendedor, camponês, etc.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Representando papéis





Na primeira parte deste pequeno livro, Action and Reaction, de Swami Dayananda, o sábio nos ensina que podemos olhar para uma determinada situação sob o ponto de vista de um ator e assim assumir diferentes papéis quando o momento pede.

PARTE I – O ATOR E O PAPEL

1) O ATOR E O PAPEL
Ação e reação, como nós já conhecemos da física, são ambas iguais e opostas. Se você se esfrega em alguma coisa, você também sofre o atrito neste processo. Mas eu não estou analisando essas duas palavras neste sentido. As estou analisando com a referência daquele que responde ao mundo.
A VIDA ENVOLVE RELACIONAMENTO
Você não pode evitar de se relacionar com o mundo, responder ao mundo, mesmo que você goste ou não goste disso ou daquilo. Você deve necessariamente se relacionar com o mundo no sentido de construir a sua vida, viver a sua vida.
Ninguém se relaciona com o mundo porque está vivo, apenas por estar vivo. Quando alguém está em sono profundo, está vivo, mas não se relaciona com o mundo. De fato, não há o mundo. Durante o sono, não nos confrontamos com nada, senão com nós mesmos. Nem as lembranças nem os problemas situacionais/corriqueiros trazem preocupação; não há qualquer relação; alguém está apenas vivo.
No estado de coma também, o paciente está vivo, mas não se relaciona com o mundo. Mas ninguém vive a vida de um outro alguém mesmo que este esteja vivo em sono profundo ou em coma. Então é possível estar vivo e não se relacionar com o mundo, mas ninguém pode viver a vida sem se relacionar com o mundo.
Quando uma pessoa entra em coma, é possível mantê-lo ou mantê-la vivo(a), por meses, com a ajuda de modernos equipamentos médicos. Mas não há vida para aquela pessoa. Para viver a vida, temos que, necessariamente nos relacionar com o mundo.
Quando nós estudamos o fenômeno do relacionamento/ das relações, dois fatores se tornam evidentes. Um é aquilo com que você se relaciona e o outro é você quem se relaciona. Destes dois fatores, um é o fator mutável, com o qual você está relacionado. A situação pela qual você está relacionado continua se modificando a todo tempo e a mudança pode ser total.
Agora você vê o fogo e daqui a pouco você pode ver um cubo de gelo. São dois objetos que possuem qualidades opostas. Agora você se encontra com seu pai; agora você se encontra com seu filho. O objeto mudou totalmente; o pai foi substituído pelo filho. O objeto continua a mudar em termos de sensação e percepção; agora você percebe uma forma, agora um cheiro, agora um som, agora um toque. Então, o mundo com o qual você se confronta continua mudando.
Considerando que o mundo está mudando, você, aquele que o confronta, não muda. Aquele que viu a forma é aquele que está ouvindo o som agora. Aquele que viu e ouviu, é aquele que está conversando com alguém agora. A pessoa, você, permanece o mesmo enquanto que o objeto continua mudando.
Portanto, nós podemos dizer que dos dois que se relacionam, um é variável e o outro, aquele que confronta, é invariável. Você se mantém o mesmo se você se relaciona com o pai ou com o filho, tio ou marido, amigo ou inimigo, empregador ou empregado. Você é o mesmo seja se você vê ou ouve, caminha ou conversa, canta ou cheira. Isto é verdade, mesmo do ponto de vista das atividades mentais; aquele que estava duvidando é aquele quem está decidindo; aquele que ama é aquele quem odeia; aquele que foi gentil é aquele que é cruel. A pessoa é invariável e este é você.

O FATOR INVARIÁVEL
Agora nós temos que olhar para dentro de“você” que é invariável. Mas será que é totalmente invariável? Não podemos dizer isso, pois parece ser uma condição variável mesmo para o sujeito, aquele que se relaciona, que procura se manter o mesmo com o que se relaciona.
Quando você se relaciona com seu pai, mesmo que seja mentalmente ou de uma forma mais perceptível, você é uma pessoa específica; você é um filho. Mas, quando você se relaciona com seu filho, você nada mais é do que pai. Você não é mais filho, mas sim pai. Você foi passível de mudança, o sujeito “eu” que era filho enquanto se relacionava com o pai, agora mudou tornando-se pai enquanto se relaciona com o filho.
A pessoa “eu” está lá, mas ele tem uma condição diferente agora. Para o irmão, “eu” é irmão; para a esposa “eu” é marido; para o estudante “eu” é professor para o professor, “eu” é estudante. Então, por causa do relacionamento, “eu “ é passível de mudança. Mas a mudança no “eu” não é uma mudança total como no caso dos objetos com os quais o “eu” se relaciona.
Agora o objeto é uma forma pela qual é substituído pelo som. Agora o objeto é um amigo que é totalmente substituído por um outro que é um inimigo- totalmente oposto. Agora há alguma coisa que eu gosto e outra que não gosto. Então a mudança no objeto é total. Mas, o sujeito “eu” não é totalmente substituído porque então não haverá continuidade.
O pai-eu é substituído pelo filho-eu, mas o “eu” não é totalmente substituído; se substituído, não haverá nem pai nem filho, porque aquele que está relacionado ao filho já se foi e aquele novo que veio em seu lugar não teria qualquer relacionamento com pai. Se um fato invariável não está lá no sujeito, não haverá sutra, o que ameaça a conexão das experiências.
Então o sujeito é passível de mudar em relação ao objeto, mas a mudança não é total; a mudança é incidental e parcial. A mudança parcial no sujeito “eu” não parece deixar qualquer traço sobre o “eu”. Imagine que você está falando com sua Irmã no momento que a sua esposa aparece. Agora, quando você fala com a sua mulher, o irmão foi embora completamente e o marido tomou o seu lugar.
Você está totalmente presente lá, lembre-se, porque aquele que era irmão é aquele que é marido agora, mas desde que o papel prévio não deixe qualquer traço sobre o “eu”, você é capaz de assumir ao mesmo tempo um novo papel sem sofrer qualquer tipo de mudança de sua parte.
E isso revela um grande fato sobre a vida, essa capacidade de mudar quando eu venho me relacionar com alguma coisa, sem intrinsecamente submeter-se/suportar a mudança, essa é uma capacidade incrível. É isso que faz a vida humana. É essa capacidade que faz com que a vida seja bela, cheia de alegria, digna de valer à pena ; se esse fato não é totalmente reconhecido, a vida é uma tragédia,uma desgraça.
Este fator invariável “eu’ incidentalmente se submete a uma mudança que é aparentemente trazida ao eu que se refere a uma situação. Quando eu entro em contato com um objeto que eu gosto, eu me transformo naquele que gosta e eu quero me apossar-apegar daquele objeto.
Se no próximo momento eu entro em contato com um objeto que não gosto, eu imediatamente me transformo naquele que não gosta e eu quero me livrar daquele objeto. Agora neste contexto, o “eu” está lá porque aquele que era o que gostava é aquele que não gosta. Naquele que gosta existe um eu e naquele que não gosta também há um eu. Aquele eu é invariável e portanto não há aquele que gosta nem desgosta. Não é verdade? Se for verdade, você faz a sua vida. Se não for verdade, a vida se transforma em uma tragédia.

A VIDA É UM PAPEL QUE SE REPRESENTA
Agora, se há presença, a presença do eu em todas as situações submetidas às mudanças aparentes, nós podemos olhar para a situação, como nós olhamos sob o ponto de vista de um ator, assumindo diferentes papéis. Vamos dizer que há um ator representado pela letra A que assume o papel de um homem que pede esmolas-pedinte, que é representado pela letra B numa peça. Este pedinte é o herói da peça.
Pagam-lhe muito dinheiro para representar o papel de um pedinte e ele o representa tão bem porque estudou muitos pedintes necessitados e pegou todas as dicas com eles. E ele durante a peça é contemplado com uma música de fundo que na vida real um pedinte não tem! Então, atua como um pedinte que muito convence.
Algumas pessoas o insultam, cospem nele e ele aceita isso sem qualquer protesto. Alguns dão esmolas e ele as aceita com um sorriso. Com freqüência ele chora e ele é um ator muito bom que derrama lágrimas reais. Ele se submete a várias experiências, algumas delas trágicas outras prazerosas.
Agora me diga: Essas experiências afetam o ator A? Ele é afetado pelos problemas pertencentes ao papel que representa, mendigo, B? Não, mesmo quando ele derrama lágrimas ele é capaz de fazer isso muito bem porque ele está consciente do papel que representa e internamente ele está feliz ao invés de derramar lágrimas porque ele é capaz de fazer isso muito bem. Isto é possível pois ele está atuando.
Suponha que o ator se envolve demais com o papel do pedinte e acha que na verdade ele é mesmo um pedinte. Então ele não está mais atuando, ele está reagindo. Suponha que há um vilão nesta peça e há um encontro entre o vilão e o herói que é aquele que é o pedinte. O vilão dá uma pancada nele e de acordo com o roteiro pressupõe-se que o pedinte não reaja e esteja pronto para receber um outro golpe.
Mas ao invés disso, o pedinte se torna tão zangado que ele resolve punir o vilão, revidando o golpe. Isto não está de acordo com o roteiro e o outro ator nunca poderia esperar tal reação. A cortina abaixa e quando perguntado sobre porque agiu daquela forma, o ator que representava o pedinte respondeu: Eu bati nele, porque ele bateu em mim. Como ele pode me bater?
O fato de ele devolver o golpe, isto é uma ação ou reação? É uma reação. Algo aconteceu com ele que estava dominado por uma emoção particular que tomou conta dele que não estava consciente/atento do fato de que naquele momento ele era apenas um ator representando um papel.
Novamente vamos olhar para este ator A que representa o papel B. Os problemas do papel estão sempre confinados/pertencentes ao papel e estes problemas não afetam o ator A. O senhor A não se sujeita aos problemas de B. O que isso significa? Isto significa que há uma distância entre B e A e então os problemas de B de modo algum afetam A. Há uma distância física entre o pedinte B e o ator A?
Não há nenhuma distância física entre os dois: o nariz de B é o nariz de A, os olhos de B são os olhos de A, o corpo de B é o corpo de A e a mente de B é a mente de A. B não tem status por si próprio, nem é por si próprio. B não aprecia o seu eu por si só, ele não tem atma por si só. Portanto B é A. E isto significa que os problemas de B são os problemas de A? Isto seria verdade se B fosse igual a A e A igual a B, pois assim os problemas de um deles seriam os problemas dos outros. Mas não é assim que funciona. Mesmo que B seja A, A não é B.
O fato de que A não é B não se evidencia apenas quando o papel B não é representado na peça. A não é B mesmo quando está representando o papel B. Isto tem que ser entendido. Isto é chamado jnanam, conhecimento. A não tem que abandonar o papel B para ser A, mas isso acontece em sono profundo e em coma onde não há nenhuma vida caracterizada por relacionamento. Se A não é B, então porque seria necessário desistir de B para se revestir de A? Na verdade, A deveria ser capaz de ir de B para C e de C para D. E entenda que A continua o mesmo.
Então enquanto B é A, A não é B. A não é afetado pelos problemas de B porque A está consciente do fato de que ele é A, representando o papel de B. Ele não perde a autoconsciência mesmo que esteja identificado totalmente com o papel que representa. Então, quando ele representa o papel retendo a sua clara auto identidade, há ação e não reação.
PAPÉIS NÃO PODEM SER EVITADOS
Qual a distância natural entre A e B? Enquanto B inteiramente depende de A, A não depende de B. Isto não é um fato tão simples. Este é um fato que todos deveriam necessariamente saber, porque quando você é um ator, você deve necessariamente aprender não se deixar levar por uma determinada situação. No caso de um ator representar um papel, ele pode querer desistir de representá-lo, desistir de representar os papéis que acha que não consegue representá-los. Mas é possível para você evitar os papéis?
Os papéis que estão enraizados em você mesmo antes de você conhecê-los. Quando você nasceu seu pai disse: “Meu filho nasceu”. A mãe disse: “Meu filho nasceu”; o irmão disse: “Meu irmão nasceu”, alguém diz: “Um neto nasceu”; alguém mais diz : “Um primo nasceu” ... e assim por diante. E antes que você saiba qualquer coisa, você já está se relacionando. O nascimento por si só já é um relacionamento e então quando eu nasço, eu já me relaciono e isso significa que eu já estou representando papéis. Então, não é possível a ninguém não representar papéis.
Até mesmo ver já é um papel; eu sou aquele que vê. Mas o “eu” tem um intrínseco atributo da visão? Se tiver, então eu deveria estar vendo o tempo todo. O fato é: eu sou aquele que vê agora, o que ouve, o que duvida, o que pensa, o que come, o que bebe, o que caminha, etc... O “eu” permanece o mesmo. O “eu” assume os papéis daquele que vê, ouve, fala, pensa, etc... Eu sou, portanto, nenhum deles. Então, o Senhor Ksna diz na Bhagavad Gita:
... Na cidade dos nove portões (o corpo), ele (o sábio) permanece feliz, não agindo, tampouco fazendo com que os outros ajam. (V-13).
O homem sábio executa ações sem na verdade executá-las, pois há uma distância entre o papel e aquele que representa. Não é uma distância física – a distância é conhecimento. O sábio sabe qual é a identidade do “eu” e tem consciência que ele está representando papéis. O que ele faz é chamado drama. Então, minha situação é muito clara. O status/condição incidental que eu tenho é um papel e o “eu” é sempre invariável em todos eles.
Aquele que tem uma auto-identidade, não leva nada intrinsecamente ao ser. Ver não é possível sem eu, mas o eu não é aquele que vê – isto é um fato. Se fosse assim, minha vida inteira se tornaria uma vida de papéis que se representa.
Nem eu nem você nem ninguém podem evitar a representação de papéis. Desde que você não possa evitar essa representação de papéis, você não pode evitar conhecer a pessoas que representa esses papéis. Este conhecimento é sem escolha. Você não tem escolha em quais papéis representar e nem a escolha em entender-se porque como você é , pois se você não conhecer o “você” que representa papéis que é chamado a representar, você se torna o papel.
Quando desempenho o papel de pai e eu estou ciente do fato de estar representando este papel, pai meramente se torna um papel. Quando você representa um papel, lembra sempre da sua identidade, porque o conhecimento do ator já está presente em você. Este conhecimento permanece mesmo quando você se identifica com o papel que representa. Você não precisa lembrar de si mesmo, porque conhecimento não é memória.
Então, quando eu represento o papel de pai na minha vida e eu sei que estou representando este papel, o papel será representado de acordo com o “script”(roteiro), levando-se em conta o melhor de meu conhecimento e habilidade. Ninguém tem todo o conhecimento e toda habilidade e mesmo assim fazer coisas que não são certas, que não funcionam. Muito bem; o que é importante é que eu sei que represento um papel e que eu não me torno este papel.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Lenda dos índios Cherokees


Na história dos Cherokees, índios da América do Norte, existe uma lenda que fala sobre o rito de passagem da juventude para a maturidade.
Ao final de uma tarde, o pai leva seu filho para a floresta, no alto de uma montanha, venda-lhe os olhos e deixa-o sozinho.
O jovem fica lá, sentado, sozinho, toda a noite, e não poderá remover a venda dos olhos até os raios do sol brilharem no dia seguinte.
Ele não poderá gritar por socorro para ninguém. Se ele conseguir passar a noite toda lá, será considerado um homem.
Ele não deverá contar a experiência aos outros meninos porque cada um deve tornar-se homem do seu próprio modo.
O menino ficará naturalmente amedrontado. É possível que ouça barulhos de toda espécie. Os animais selvagens poderão estar ao redor dele.
Talvez possa ser ameaçado por outro humano. Insetos e cobras poderão feri-lo. É provável que sinta frio, fome e sede.
O vento soprará a grama, as árvores balançarão e ele se manterá sentado estoicamente, nunca removendo a venda. Segundo os Cherokees, esse é o único modo de se tornar homem.
Finalmente, após a noite de provações, o sol aparece e a venda é removida. Ele então descobre seu pai sentado na montanha, próximo a ele. Estava ali, a noite inteira, protegendo seu filho do perigo.
* * *
Essa lenda nos remete aos momentos de dificuldades que atravessamos na vida e nos quais nos julgamos estar sozinhos.
Lembremos que Deus, Pai amoroso, está presente em nossas vidas em todos os momentos, nas alegrias e nas tristezas, pois jamais abandona um filho Seu.
Assim como o pai do jovem índio, Deus, através dos Benfeitores Espirituais, está sempre olhando por nós. Por descuido da fé, muitas vezes, não confiamos na Sua presença.
Evitemos tirar a venda dos olhos antes do amanhecer. Carreguemos a certeza em nossos corações de que estamos constantemente amparados pela Espiritualidade Maior.
Nossos caminhos não estarão livres de percalços nem das dores. Entendamos que as dificuldades que a vida nos impõe são instrumentos de crescimento e fortalecimento para o futuro.
*   *   *
Nunca estás sozinho.
No lugar onde estejas, Deus está contigo: no lar, no trabalho, no espairecimento, no repouso, na doença, na saúde, nele haurindo consolo e forças para prosseguires nos misteres a que te vinculas.
Somente te sentirás a sós, se deixares de preservar o vínculo consciente com o Seu amor. Mesmo assim, Ele permanecerá contigo.
Lembra-te: Deus é sempre o teu constante companheiro.

Redação do Momento Espírita, com base em lenda Cherokee e pensamentos finais
do cap. 13, do livro Filho de Deus, pelo Espírito Joanna de Ângelis,
psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 19.09.2011.